As mulheres vêm sendo silenciadas e ocultadas por muitos séculos. Ao se tratar das mulheres artistas percebe-se que esse movimento de esconder e oprimir é mais potente. Michelle Perrot em sua obra Minha história das mulheres, 2017, mostra como as mulheres artistas foram desde sempre escondidas e/ou silenciadas pelos homens que subjugavam suas produções. No livro, a autora faz um recorte de artistas que foram ocultadas ao longo dos séculos. Além disso, chama atenção como sempre existiu a tentativa de se fazer ouvida, de ser vista.
Nas expressões artísticas as mulheres encontravam empecilhos em se fazer protagonista. No passado não muito distante, Rosa Bonheur teve que solicitar a autorização do chefe de polícia para ter o direito de usar calça compridas para conseguir montar seu cavalete em público. “Nas vanguardas as mulheres eram muito poucas, exceto quando tinham relações familiares com seus representantes. Foi o que ocorreu com Berthe Morisot, cunhada de Édouard Manet”, diz Perrot.
Mas como acontecem essas relações em nosso século? Perrot não é otimista. Diz que as coisas mudaram, mas sem sobressaltos. Uma das hipóteses que se pode levantar é o lugar de fala: por mais que elas existam, não conseguem ter reconhecimento. Spivak em sua obra Pode o subalterno falar? desvela o lugar incômodo e a cumplicidade do intelectual que fala em nome de outro, e por meio dele constrói um discurso de resistência. Um exemplo disso são os inúmeros escritos e exposições sobre mulheres em períodos distintos da história ocidental. Tais discursos são tecidos sob o viés masculino, com a intenção de mostrar a existência das mulheres e as suas produções. Agir dessa forma, segundo Spivak, é reproduzir as estruturas de poder e opressão, mantendo o subalterno silenciado, sem lhe oferecer uma posição, um espaço de onde possa falar, e principalmente, no qual possa ser ouvido.
Não existem análises simplistas para essas colocações. O intuito deste texto é abrir o espaço para o diálogo. Uma das soluções para o problema é que os intelectuais com lugar de fala possibilitem a criação de espaços para que o outro possa agir por si. Na contemporaneidade, mesmo com todos os feminismos, não é raro abrir um livro de história da arte e só ver artistas homens, de visitar exposições sem mulheres participantes. Por mais que ainda existam espaços em que as mulheres dialoguem e mostrem seus próprios trabalhos, é preciso ter mulheres em todo o sistema artístico.
PERROT, Michelle. Minha história das mulheres. Tradução de Angela M. S Corrêa. São Paulo: Contexto, 2017.
SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar?. Tradução de Sandra Regina Goulart Almeida, Marcos Pereira Feitosa, André Pereira Feitosa. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.

MAYÃ FERNANDES é formada em Filosofia pela UnB e atualmente é mestranda em Metafísica pela mesma instituição. É pesquisadora da Cátedra UNESCO Archai: Origens do pensamento Ocidental e editora da PHAINE: Revista de Estudos Sobre Antiguidade. Estuda a teoria do belo na antiguidade e escreve crítica de arte no site Linhas de fuga.