A primeira exposição que marcou nossas vidas permanece sempre em eterno retorno. A minha foi em meados de 2013, com a exposição Ausências Brasil (2012), fotografias do argentino Gustavo Germano, no Museu Nacional (MuN). Essa exposição relaciona-se com o momento de tensão política em que passamos.
A mostra fotográfica, que integrou o Projeto Direito à Memória e à Verdade da SDH, retrata a ausência deixada por vítimas da ditadura militar de 12 famílias brasileiras. O trabalho consistia em duas fotografias emparelhadas lado a lado. A primeira foto mostra-se completa, enquanto a segunda evidencia a ausência da pessoa após anos.
Tiradas em 2012, a série Ausências Brasil (2012) integra o projeto maior de Germano, que reuniu não apenas vítimas da ditadura no Brasil, mas também dos nossos países vizinhos, realizando as séries Ausências Argentina (2006), Ausências Uruguai (2016) e Ausências Colômbia (2015).
Trabalho delicado, as fotografias da esquerda, em preto e branco, guardam a juventude, esperança e tranquilidade, enquanto as da direita reservam a ausência do sujeito. O não existir é doloroso e deixa marcas para os que ficam. Apresentar a perda é mexer com o imaginário e a empatia do público que visita a exposição. É levar a saudade até às pessoas alheias à realidade vivida por muitos no período ditatorial.
Sabemos que lidar com a perda nem sempre é fácil e que a arte, em algumas de suas expressões, possui o papel de tornar sensível o que está no subjetivo do artista. Germano teve um de seus familiares vítima da ditadura militar e resolveu criar o projeto como meio de fazer com que a memória permanecesse viva. Para além disso, suas fotografias mostram que as pessoas não são substituíveis e que mesmo com sua ausência, os espaços guardam em si resquícios do que aconteceu.
Evidenciar as lacunas e travar lutas políticas pela memória é estratégia para manter-se vigilante contra a ameaça do fascismo. Ao olhar as fotografias lacunares, pode-se reviver o luto. A lembrança não é apenas uma forma de lidar com a perda, mas fixa nas paredes a história de um período doloroso da humanidade. A luta conta o poder é a luta da memória contra o esquecimento.
Gustavo Germano: http://www.gustavogermano.com/#ausencias-2

MAYÃ FERNANDES é formada em Filosofia pela UnB e atualmente é mestranda em Metafísica pela mesma instituição. É pesquisadora da Cátedra UNESCO Archai: Origens do pensamento Ocidental e editora da PHAINE: Revista de Estudos Sobre Antiguidade. Estuda a teoria do belo na antiguidade e escreve crítica de arte no site Linhas de fuga.