Fascista é aquele que exerce seu poder de maneira autoritária para promover a negação do outro. Ou seja, não foi só uma questão de antipetismo. O voto em Bolsonaro revelou o ódio que um enorme número de pessoas tem contra determinados grupos sociais. Por isso, está doendo tanto – igual facada.
Já estamos contabilizando mortos e feridos, já estamos vendo a imprensa ser descreditada e os professores serem coagidos. A posse nem aconteceu, mas o show de horror já começou com direito a desfile militar, culto neopentecostal, fogos e tiros – muitos tiros. E é exatamente contra a cultura do ódio e sua consequente instrumentalização política que temos que nos posicionar.
Deletar os loucos do Facebook e cancelar a ceia de Natal com os parentes-bolsominions pode até ajudar na saúde mental (que nunca nos foi tão cara), mas não vai fazer com que os neofascistas desapareçam. O exercício de desnaturalização do fascismo é tarefa difícil. Mas a história nos diz que é possível.
Ainda não temos uma cartilha de conduta para os próximos quatro anos. Mas promover atitudes transformadoras e democráticas de enfrentamento do fascismo passa um princípio básico: não ceder ao ódio.
LUDIMILLA FONSECA é comunicóloga e jornalista formada pela Universidade Federal de Juiz de Fora (MG). Paralelamente, trabalha como curadora e produtora independente de projetos artísticos. Mineira, atualmente, reside no Rio de Janeiro, se dedicando aos estudos curatoriais e de história da arte. Especializada em storytelling, suas principais áreas de interesse são: arte contemporânea brasileira, semiótica e cinema.