Entendendo a curadoria como o ponto de interseção entre artistas, suas obras, ocontexto em que são produzidas e posteriormente expostas (o que engloba as instituições, o público, a imprensa e o mercado), cada vez mais pesquisas (artísticas e acadêmicas) têm o objetivo de investigar a relação entre os processos de produção e exibição de arte
contemporânea, a fim de questionar os “modelos curatoriais dominantes” e discutir possíveis novas abordagens.
Nutridos pela exponencial multiplicidade das obras de arte e pelos cenários
socioeconômicos nada favoráveis, os sistemas de exposições vêm encorajando e demandando a multiplicação dos gestos curatoriais. Estamos falando em processos que exploram noções de percepção e sensibilidade e em uma maior afinidade entre curador e artista na transmissão de ideias e sentimentos e na permuta de informações e desejos.
Do “horror vacui” ao cubo branco, a atuação dos curadores não está mais condicionada a um espaço e a um tempo, mas à extrapolação destes. Sendo assim, é imprescindível repensar as expografias diante de formas de arte baseadas no tempo, dependentes do contexto, dinâmicas, interativas, colaborativas, variáveis. Coletivos, residências, ocupações e grupos de pesquisa, com seu caráter não-hegemônico, não-tradicional e inclusivo parecem ser um campo fértil para tais investigações, que remetem à experimentalidade inerente à quebra das “grandes narrativas” e à procura por discursos polifônicos que ampliem nossas possibilidades de afronta às limitações impostas pelo cenário político-econômico e também pelo cenário sociocultural de espetacularização e pasteurização/padronização das possibilidades expositivas na arte contemporânea.
Em suma, temos como questão-problema: como não cair nos modelos curatoriais
tradicionais e hegemônicos e desenvolver uma prática e pensamento expositivos que, de fato, estejam alinhadas com as propostas dos artistas e com a realidade na qual estamos inseridos?
Talvez, o grande desafio para um curador seja permitir ao público estabelecer novas conexões e produzir novos sentidos como consequência do “choque” entre a experiência cognitiva-sensorial sentida no espaço expositivo (seja ele qual for) e a bagagem cultural que cada um traz para este “espaço”.
LUDIMILLA FONSECA é comunicóloga e jornalista formada pela Universidade Federal de Juiz de Fora (MG). Paralelamente, trabalha como curadora e produtora independente de projetos artísticos. Mineira, atualmente, reside no Rio de Janeiro, se dedicando aos estudos curatoriais e de história da arte. Especializada em storytelling, suas principais áreas de interesse são: arte contemporânea brasileira, semiótica e cinema.