VAZIO.
Um vazio ativo. Papel, tela, superfície, em um processo de construção coletiva com o traço. Constrói, e depois age, ativando a imaginação. Traço, como ingrediente estimulante que, fundindo-se à superfície, produz espaço onde hiato é também matéria. Trabalhos como a obra de Mira Schendel, Hélio Oiticica, Antonio Manuel, expõem a superfície, tanto em sua condição imediatamente anterior ao estado de obra, como em seu estado final. Agora, o não ser, é. Outro modo de ser. O vazio, como elemento ativo no trabalho.
Um jogo entre ausência e potência, o vazio tem como condição essencial um eterno vir a ser. Que se completa, ou não, no espectador ativado, pelo sítio que lhe permite participação na obra. Na obra de Schendel, por exemplo, é assustador notar a negociação que ocorre entre suas linhas e vazios. De forma muito delicada, ela desenvolve as relações em seus trabalhos. Numa dialética quase silenciosa, ela descortina o jogo sem denunciar quem ali tem maior peso, se tem. De modo diferente, Hélio Oiticica com os Penetráveis, o artista promove no espaço, a realização e a possibilidade da percepção sensual desde vazio, quase como uma promoção de um estado equivalente ao ócio.
CAROLINA LOPES, 32 anos, estuda História da Arte na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Fotógrafa e designer, também trabalhou como bolsista do professor Marcelo Campos na Casa França-Brasil, onde esteve mais perto das práticas curatoriais e artísticas. Nascida e criada em São Gonçalo, teve acesso tardio aos museus, cinemas, e espaços culturais; tendo sido completamente envolvida pelo universo da arte desde o primeiro contato.