“Analisando essa cadeia hereditária
quero me livrar dessa situação precária
onde o rico fica cada vez mais rico
e o pobre cada vez mais pobre
e o motivo todo mundo já conhece
é que o de cima sobe e o de baixo desce”
Lutar pela popularização das artes é tarefa árdua. Aqui em Brasília a situação não é diferente do que outras cidades já enfrentam. Dos espaços artísticos aos editais, um pequeno círculo acadêmico de amigos domina e perpetua, às vezes inconscientemente, a ideia de que a arte é para poucos.
Os espaços culturais, como o CCBB e o Museu do TCU costumam ser inacessíveis à população, favorecendo apenas quem tem um meio de locomoção próprio. O Espaço Cultural Renato Russo, que sobrevive por meio de parceria público/privado, sofre com a falta de organização, com o desleixo com os artistas e o descompromisso com o público. Por mais que existam na cidade galerias e ateliês menores, essas se localizam em lugares de difícil acesso ou possuem uma agenda pouco difusa.
Bem, Brasília é a cidade em que “o rico cada vez fica mais rico e o pobre cada vez fica mais pobre”. Os editais beneficiam artistas que já possuem indicação, que já são premiados ou que realizam frequentemente exposições por meio da broderagem. São artistas herdeiros ou que foram apadrinhados por professores da UnB, que monopolizam o cenário artístico. O recorte racial é abafado e os artistas periféricos que não tiveram a oportunidade de se inserir neste meio sobrevivem de migalhas.
“Mas eu só quero
educar meus filhos
tornar-me um cidadão
com muita dignidade
eu quero viver bem
quero me alimentar
com a grana que eu ganho
não dá nem pra melar
e o motivo todo mundo já conhece
é que o de cima sobe e o de baixo desce”
Essa discrepância de oportunidades também atinge a carreira de curadoria e de crítica de arte. Todo o sistema funciona de modo que as mesmas pessoas continuem a ocupar posições privilegiadas. Não existe uma renovação no elenco. Os protagonistas já estão estampados nas revistas locais há anos.
E não adianta torcer o nariz ao ler que a população de artistas menos favorecida necessita de dinheiro e de financiamento. Ninguém sobrevive de amor à arte. Em Brasília, a democracia tornou-se arte decorativa.
Crédito das citações: As meninas. Bom chibom chibom bom bom. 1999.
Crédito da imagem: Pierre-Auguste Renoir. O Almoço dos Barqueiros. 1881.
MAYÃ FERNANDES é formada em Filosofia pela UnB e atualmente é mestranda em Metafísica pela mesma instituição. É pesquisadora da Cátedra UNESCO Archai: Origens do pensamento Ocidental e editora da PHAINE: Revista de Estudos Sobre Antiguidade. Estuda a teoria do belo na antiguidade e escreve crítica de arte no site Linhas de fuga.
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