Ele me convidou para jantar em sua casa.
Entre vinhos,
Me contou que seu terapeuta tinha sugerido que começasse a cuidar de plantas.
Então, pedi que me mostrasse.
Todas estavam bem, mas ele não sabia seus nomes.
“Essa é a avenca”; “aquela é o manjericão”; “a outra é alecrim”.
“Mas falta uma flor” – sorri.
– Será que ele vai lembrar meu nome pela manhã?
Acordei sozinha.
Não queria levantar, mas a chuva insistiu.
Pingos grossos batiam na janela como uma goteira em minha testa.
“Menos vinho, menos festa” – sorri.
Domingar
E folhear aquele livro de poesias jogado no sofá.
A vizinha já estava ao piano.
Me apressei para fazer o café
(porque prefiro as notas misturadas).
Ele gosta de Gullar e eu de Cortazar.
O café esfria
(porque não se pode parar de ler).
– Quando chove, as plantas não precisam ser regadas.
Ludimilla Fonseca é jornalista pela UFJF (MG) e mestranda em História e Crítica da Arte na UFRJ. Curadora e produtora independente, escreve regularmente para as revistas Desvio, Híbrida e O Fermento”.