São Paulo, 8 de março de 2019
Cordiais saudações,
Venho lhe falar tudo que você não soube, vim te tirar de medos e assombrações, vim contar minhas estórias da casa velha da ponte.
No quarto de despejo, levando uma vida de gato aprendi a arte de pedir.
Graças a uma amiga genial pude sair da redoma de vidro que me cercava há tempos e me livrar de um amor incômodo. Ninguém é de ninguém e sentimento de posse não deve existir.
Com olhos d’água, sofri. Das coisas esquecidas atrás da estante, meu livro de cabaceira ficou. Não houve saída, era ou isto ou aquilo.
Aconteceu comigo o mesmo que o sol faz com as flores. Desabrochei.
Na ciranda das mulheres sábias, peguei na mão esquerda de vênus e dancei uma ciranda de pedra com as meninas.
Orgulho e preconceito cederam espaço à razão e sensibilidade.
Na busca pelo que é lugar de fala, aprendi outros jeitos de usar a boca.
A hora da estrela chegou, o segundo sexo virou o primeiro. Saí da água viva.
Agora vivo perto do coração selvagem, com os meus olhos de cão.
Só quero te pedir que ninguém nos ouça. Que fique em segredo.
Fim
* os trechos em itálico deste texto são nomes de livros escritos por mulheres
GABRIELA MANFREDINI é uma artista emergente, designer e ilustradora residente em São Paulo. Interessa-se pelo universo artístico desde criança. Seu trabalho é principalmente envolvido por temas como conexão, encontros e empatia.