Passamos por um engenho abandonado.
Onde antes havia a mata, agora apenas o pasto.
Um longo caminho de coqueiros levava a lugar nenhum.
Onde antes havia a casa, agora apenas a dívida.
A estrada seguia e era um dia comum.
Como o dia em que fui assaltada. Ou o dia em que fui atropelada.
Passamos por um posto de gasolina desativado.
Onde antes havia trabalho, agora apenas poeira.
Mais adiante, um incêndio no acostamento.
Fumaça é o cheiro visível do que já queimou.
Morno e morto.
Enxergo fantasmas na fumaça e animais nas nuvens.
Mas não há pássaros no céu. Nem sinto o vento.
Tenho sede e sei que ainda estamos longe.
– O Brasil já foi mais gentil.
Ludimilla Fonseca é jornalista pela UFJF (MG) e mestranda em História e Crítica da Arte na UFRJ. Curadora e produtora independente, escreve regularmente para as revistas Desvio, Híbrida e O Fermento”