Continuava a reclamar do tempo
Ainda que não tivesse nenhum plano de sair do apartamento.
Deveria ter ido ao mercado, mas nem isso, se deu ao trabalho.
Andava irritada e, por isso, bem calada.
O inverno havia começado no dia primeiro de janeiro
E as previsões continuavam piorando.
– Vou passar frio, assim como tenho passado vontade.
Então, se prepare.
E não minta sobre estar fazendo planos.
Siga apenas reclamando.
Cubra os pés, tampe os ouvidos e se acostume com o escuro.
Se te perguntarem, responda que sofre de saudade.
Mas veja bem, não precisa explicar que não é saudade de alguém.
No inverno e na saudade, está permitido hibernar.
Não há mal em reclamar (até que o tempo mude).
Ludimilla Fonseca é jornalista pela UFJF (MG) e mestranda em História e Crítica da Arte na UFRJ. Curadora e produtora independente, escreve regularmente para as revistas Desvio, Híbrida e O Fermento”