Quando aqui nada existia, eu aqui já vivia
Deito no chão e vejo os coqueiros invertidos
Naquele pedaço de mundo, muita coisa acontece
As crianças gritam com as ondas e a espuma vira bolha
O senhor penteia a areia com seus dedos grossos e pensamentos escassos
O casal dá mãos sem cruzar os olhos
O vendedor oferece o camarão e ninguém tem fome
Os rapazes pescam e levantam o anzol vazio
O helicóptero vigia o mar porque os salva-vidas estão de greve
Os guarda-sóis já não protegem e a cerveja esquenta
Areia nos olhos é marasmo diante da tormenta
Outro casal se beija e as pombas levantam voo como se fossem livres
Eles vêm aqui para relaxar, mas ao chegar em casa continuam cansados
Ludimilla Fonseca é jornalista pela UFJF (MG) e mestranda em História e Crítica da Arte na UFRJ. Curadora e produtora independente, escreve regularmente para as revistas Desvio, Híbrida e O Fermento”