Algumas palavras sobre o gosto pela literatura triste (este gênero que não existe, contudo é real):
O gosto não procede apenas do contexto infeliz que o leitor e a leitora indubitavelmente têm vivido. Também não decorre do reconforto de dividir a frustação ao compactuar com o lamento do poeta: a pérfida resignação diante da escolha errada, a apatia a posteriori que chega à galope solapando as energias e a imperiosa impotência diante daquilo que, a supor, é maior.
Não se trata disso. Ou melhor, não é só isso. O que desperta empatia, beirando o apego, pelo tal gênero borocoxô é o respaldo de que as palavras do poeta são a favor da vida. Aquele lembrete, jururu, mas vívido, de que a vida pode-deve ser outra: a literatura triste empele seu leitor a avançar na ressignificação da promessa da felicidade. A reordenação do real a partir do que se lê como ferramenta de sobrevida. Literatura é coisa generosamente democrática e, se transparece pessimista, esse é seu jeito de resistir.

Ludimilla Fonseca é jornalista pela UFJF (MG) e mestranda em História e Crítica da Arte na UFRJ. Curadora e produtora independente, escreve regularmente para as revistas Desvio, Híbrida e O Fermento”