A dimensão imaterial da cultura não é acessível de forma tão evidente e direta através da fotografia, sendo necessário um olhar mais cuidadoso para perceber os valiosos detalhes que as imagens são capazes de revelar a partir dos registros das atividades de trabalho, da organização urbana, das relações familiares e sociais, dos gestos, das disposições dos objetos nos cenários da vida cotidiana, dos ofícios, das festas, enfim, das diversas formas de manifestação cultural.
Tive a oportunidade de visitar recentemente a exposição: “IMATERIAL: Patrimônio e memória coletiva”, no Museu das Peregrinações e da Cidade de Santiago de Compostela, Espanha (23 de abril a 16 de junho de 2019). A exposição apresenta a fotografia como reveladora do simbólico e possibilita ao visitante ampliar as possíveis interpretações imagéticas, já que extrapola a descrição sumária da foto buscando-se atingir a dimensão do que não está visível, ou seja, do sentido, do significado.
A fotografia é uma forma narrativa dentre tantas outras existentes e também uma fonte histórica capaz de retratar os costumes do período em que foi produzida. E esta exposição demonstra a capacidade dos fotógrafos, espanhóis e estrangeiros, na observação da vida cotidiana. As suas fotografias servem como um importante documento para compreendermos melhor como eram as sociedades precedentes e quais os aspectos do passado cotidiano ainda permanecem vigentes, quais se transformaram e quais desapareceram.
As imagens fotográficas expostas vão muito além das suas meras descrições, revelando expressões culturais vividas em outros tempos. Assim, retratam a história visual de uma sociedade, documentam situações, estilos de vida, gestos e atores sociais, permitindo aprofundar o conhecimento das dimensões vivas da cultura: os tipos humanos no contexto das suas vidas.
Daniel Levy de Alvarenga é formado em Direito e em História pela PUC-Rio. Mestre em História pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), linha de pesquisa “Patrimônio, Ensino de História e Historiografia”. Doutorando em Direito pela Universidade Autônoma de Lisboa (UAL), desenvolvendo pesquisas sobre patrimônio cultural material e imaterial.