Um juiz que durante o processo eleitoral prendeu um candidato e depois da eleição assumiu o cargo de Ministro da Justiça do candidato vitorioso; Golden shower; meninos de azul e meninas de rosa; nazismo de esquerda; Brasil acima de tudo e Deus acima de todos; ministro do meio ambiente que não sabe quem é Chico Mendes; as conversas de whatsapp entre o secretário-geral e o presidente; cortes orçamentários na educação e na cultura; liberação desenfreada dos agrotóxicos; proibição da divulgação de pesquisa realizada pela Fiocruz; uma proposta de reforma da previdência autoritária e unilateral; vídeos semanais toscos do presidente; soldados do exército que atiram 257 vezes em pessoas inocentes e são libertados pela justiça militar, etc, etc…
A cidade do Rio de Janeiro não fica muito atrás do ranking dos absurdos. Para não alongar a lista, vale mencionar que a prefeitura extinguiu a verba para conservação dos 1.374 monumentos históricos da cidade.
Todos os dias somos bombardeados por notícias tão surreais que acabamos naturalizando o absurdo. Parece até que estamos vivendo dentro de uma série do tipo The Twilight Zone (Além da Imaginação) ou Black Mirror, que apresentam contos de terror e de ficção científica onde tudo pode acontecer. E o pior: estas notícias estão com prazos de validade cada vez mais curtos e caem rapidamente no esquecimento.
A banalização do absurdo bombardeia cotidianamente o nosso desejo de mobilização e corremos o risco de perder a capacidade de indignação, normalizando situações inaceitáveis. Não podemos nos abater diante da intolerância e da ignorância!
Em decorrência dos diversos compromissos profissionais e acadêmicos recentemente assumidos, esta é a minha ultima crítica na Revista DESVIO. Agradeço imensamente a oportunidade que me deram para dividir alguns dos meus singelos pensamentos com os leitores. Vamos em frente, na luta por uma sociedade mais justa e humana.
Daniel Levy de Alvarenga é formado em Direito e em História pela PUC-Rio. Mestre em História pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), linha de pesquisa “Patrimônio, Ensino de História e Historiografia”. Doutorando em Direito pela Universidade Autônoma de Lisboa (UAL), desenvolvendo pesquisas sobre patrimônio cultural material e imaterial.