Inaugurada em maio deste ano no Museu de Arte do Rio a exposição “O Rio dos Navegantes” poderá ser visitada até março do ano que vem. Resultado de uma grande pesquisa coletiva, a exposição reúne cerca de 550 peças, entre históricas e contemporâneas, incluindo documentos, objetos utilitários, científicos e peças artísticas.
Explorando o caráter portuário da cidade do Rio de Janeiro, a exposição não se limita ao aspecto “romântico” do navegar, senão que, com um olhar crítico, assume as complexidades e as problemáticas de um mar tão navegado e diverso.
Abaixo listarei alguns motivos pelos quais agora poderia ser um bom momento para navegar pela exposição:
1- A poucos dias do assassinato do cacique da etnia Wajãpi no Amapá e em meio a um clima de ódio contra os povos indígenas, reafirmado pelas declarações e pelas políticas anti-demarcação do atual presidente, “O Rio dos Navegantes” apresenta um núcleo dedicado às culturas originárias. Longe de apresentar uma visão sobre povos que ficaram na história -e, portanto, no passado-, a exposição reivindica a existência de povos indígenas contemporâneos na região fluminense e toca temas delicados, usualmente pouco abordados, como a atual desapropriação dos seus territórios.
2- Tarsila do Amaral acaba de bater o recorde do MASP com a exposição “Tarsila Popular”. Desbancando Monet, a exposição mais vista da história do MASP passa a ser de uma artista mulher e brasileira. Em “O Rio dos Navegantes” é possível ver uma obra da artista (talvez não das mais conhecidas, o qual resulta interessante), além do Manifesto Antropófago (surgido a partir da sua obra “Abaporu”) ao lado de uma breve contextualização do rito canibal em tempos de conquista.
3- O núcleo dedicado à diáspora africana, como parte da cultura portuária, nos ajuda a entender alguns aspectos da escravidão, suas heranças e a complexa história do lugar onde o MAR está ancorado.
4- Um arquiteto acaba de instalar uma gangorra na fronteira entre o México e os EUA. Em um contexto marcado por uma crise global (econômica, política e moral), migrar se torna uma necessidade para muitos. “O Rio dos Navegantes” busca resgatar e conservar a memória das diferentes culturas (originárias, migrantes voluntárias, involuntárias e escravizadas) que ajudaram a conformar o que hoje conhecemos como o Rio de Janeiro, visibilizando algumas culturas ou personagens que muitas vezes foram -e são- esquecidos pelos relatos. Essa abordagem, em um contexto de políticas migratórias cada vez mais rígidas por parte de diferentes países e de uma consequente xenofobia, nos ajuda a entender a importância e a contribuição das diferentes etnias e culturas na formação do tecido socio-cultural-econômico de uma cidade.
5- Em um momento em que tratam de apagar a(s) nossa(s) história(s), ou reescrevê-la(s) de forma autoritária, irresponsável e excludente, a exposição termina gerando um espaço onde manter viva uma memória diversa e crítica.
6- “Navegar é preciso, viver não é preciso”.

Vanessa Tangerini é carioca e suburbana. Ex-aluna do Pedro II e da EBA (UFRJ). Cursa a Licenciatura em Curadoria e Historia da Arte na Universidad del Museo Social Argentino em Buenos Aires, Argentina. Atualmente desenvolve sua pesquisa na área de Curadoria e Educação.