DESVIO PARA O VERMELHO
não foram poucas as vezes em que fui abjeto
quando nasci num hospital
no engenho novo
nasci
à força e enforcado
todo
sujo
de mãe, por exemplo
como ainda agora quando
soube das crianças
defenderam pintar a paisagem colorida
no papel contra um mundo só vermelho
pois o vermelho fogo de marte
está na contramão da vida
nasci envolto no vermelho
morno
todo
agarrado
por mão de plástico
atravessava o ventre
mergulhada no rubro mundo
da mãe
aonde volto
todo
surdo
fecho os olhos
a boca seca
digo que amo
e
sujo
sabendo a infâmia
o que digo
de repente
as leis
estão contra nós
entre búzios, perigos e terapia
estávamos
cada vez mais perto
de marte
onde não há notícia
de vida
Luiz Guilherme Barbosa
Professor de português e literaturas no Colégio Pedro II e doutor em teoria literária pela UFRJ. Escreve aos domingos sobre relações entre arte e literatura, arte em contexto digital, arte e política, e outras formas de desvio