vamos supor a vida de uma poeta
viveu até 1942
que dedicou à esfinge um soneto sobre a simplicidade
o focinho cético, perplexo da górgona, tanto faz
foi no rio de janeiro
mas depois, décadas depois do soneto
ela, a poeta da esfinge simples, difícil de ler
falava na rádio soviética de moscou em 1942
durante a guerra
pode ser que brasileira sua voz se ocultasse nos bastidores
da rádio onde trabalhou
mas estrangeira em 1942 ela, a poeta brasileira
foi expulsa de moscou
exilada na basquíria onde eu nunca soube
que houvesse vida
o frio a matou
exumada passados anos foi levada ao cemitério dos heróis da URSS
em moscou
onde está até hoje
pena a performance acontecer depois
da sua morte
fosse essa ideia de performance você, laura
da fonseca e silva, tomava o vapor
para pasárgada, voltava
para a grécia, não
se atirava, mulher, na frente
do poema
que
te
pegou
Luiz Guilherme Barbosa
Professor de português e literaturas no Colégio Pedro II e doutor em teoria literária pela UFRJ. Escreve aos domingos sobre relações entre arte e literatura, arte em contexto digital, arte e política, e outras formas de desvio