Convidados a falar sobre o urbano, os dez artistas reunidos nesta mostra apresentam lugares revistos, revisitados, imaginados, olhares de referência, de memória, de afeto, outros ares. Contudo, vemos aqui e ali a sobrecarga doída que jaz nas imagens trazidas à tona por quem anda pelas ruas e observa apenas vestígios de uma escrita que enaltecia a cidade, vê ondas apagarem e levarem embora construções de sonhos. A mesma amargura que sentimos ao testemunharmos o descaso público, a inépcia estatal, em suma, o absurdo da vida em meio ao caos social. Esses artistas não estão imunes a toda dor, pelo contrário, são o nervo sensível que exterioriza o grito, e ele explode sobre o oceano, quer decifrar o céu noturno que cobriu a metrópole.
O que haverá para se ponderar na balança histórico-cultural deste tempo em décadas que ainda virão os artistas estão sempre a postos sinalizando e chamando nossa atenção. São eles que esmiúçam em seus trabalhos reflexões necessárias e contundentes, engajados que estão por se manterem alertas em seu campo poético-político (todo ato é político, toda tomada de posição é política).
E no mar estava escrita uma cidade, título que tomo de empréstimo de um verso de Drummond, poderia ser parafraseado e se tornar rio, montanha, campo, qualquer lugar a que as pernas pudessem levar e chegar. A exposição traz consigo esse desejo múltiplo de ser mais que as aparências, mais do que seu aspecto formal, quer ser possibilidade, apontar alternativas, sem medo de dobrar a esquina, atravessar o cruzamento, é preciso o gesto tanto quanto o senso.
Artistas: Arvellos, Heberth Sobral, Jabim Nunes, Laura Bonfá Burnier, Luiz Badia, Luiz Bhering, Osvaldo Gaia, Petrillo, Roberto Tavares e Vania Pena C.
Curadoria: Osvaldo Carvalho
Serviço
Abertura: 28 de setembro às 16h
Visitação: 29/09 a 3/11
Horário: Terça à Sexta de 10h às 19h / Sábado e Domingo das 12h às 19h
Local: Centro Cultural Laurinda Santos Lobo
Endereço: Rua Monte Alegre, 306. Santa Teresa, Rio de Janeiro, RJ.