chema madoz é um fotógrafo espanhol, um dos mais importantes nomes da fotografia em seu país e que, atualmente, alcançou projeção internacional. aqui nos debruçamos sobre as criações de madoz observando suas imagens em uma relação com o movimento surrealista – de certa forma madoz atualiza a fotografia surrealista ressignificando objetos cotidianos, acrescentando camadas de interpretações outras para as suas imagens.
as fotografias de madoz flertam também com um certo minimalismo pois a própria forma e a textura do objeto é que dão dimensão para as imagens, já que as mesmas apresentam-se em um preto e branco de pouco contraste. essa ausência de cor e a centralidade do objeto fazem com que o trabalho do fotógrafo articule um minimalismo que potencializa os signos de suas imagens, deslocando funções e utilidades dos objetos capturados pelas suas lentes.
há uma desnaturalização do real nas fotografia de chema madoz. a representatividade não cabe nos objetos que manipula, pois ele extrapola os usos e desusos do cotidiano de objetos simplórios. uma escada não é só uma escada, ela se faz ponte entre dois mundos, conecta espaços anteriormente isolados, perde sua função original para adquirir outras – torna-se metáfora visual.

em algumas imagens o fotógrafo flerta diretamente com o pintor surrealista rené magritte – as nuvens de magritte ganham um primeiro plano nas fotografias de madoz, fazendo com que instaure-se na obra do fotógrafo um olhar cada vez mais onírico, que é intrínseco ao surrealismo. as nuvens de madoz encontram-se presas em gaiolas ou em alto de escadas, prontas para serem acessadas, palpáveis, materializam-se tais quais quaisquer objeto outro friccionado pelas criações do artista.
as pequenas brincadeiras e rupturas de madoz colocam a utilização de objetos em um outro lugar dentro da arte contemporânea. tal qual gertrudes stein, que atribuiu um olhar distintivo sobre os objetos de um certo mundo voltado para o particular, para o lar, a casa, madoz faz o mesmo com suas fotografias, propondo cortes e suspensões repletas de novas ironias e propõem universos outros: tudo é o que parece, até que de descubra outras coisas que algo possa ser.
Lucas Rodrigues é ator, performer e artista visual. Graduando em Antropologia na UFF e pesquisador da cena contemporânea teatral, no Laboratório de Criação e Investigação da Cena Contemporânea. Coordena o Sem Cabeça Núcleo de Performance, da Companhia Coletivo Sem Órgãos