Nessa terceira publicação do #TBTDesvio (21 de maio de 2020) buscamos apresentar o Caderno Especial – Africanidades, presente na 5ª edição da Revista Desvio (2018.2). O interesse por debater tais questões é antigo, dado que na 1ª edição da revista, em nossa estreia, convidamos os organizadores do AFRORESISTÊNCIAS: estética negra e novas narrativas para contribuir com a nossa publicação. É interessante mencionar que o evento foi uma atividade desenvolvida por alunos da graduação em História da Arte, da Escola de Belas Artes da UFRJ. Realizado entre os dias 11 e 13 de maio de 2016, no prédio da Reitoria, contou com uma programação diversa, com falas de cineastas, educadores, performers, pesquisadores e produtores culturais, além disso, também promoveram oficinas, contação de histórias e exibição de filme entre as mesas de comunicação. Embora a excelente repercussão dessa iniciativa e a importância das questões promovidas com o debate, o projeto não chegou a ter uma segunda edição. Dois anos depois, resolvemos produzir o Caderno Especial – Africanidades, afinal, a reflexão continua. Ainda mantemos a esperança de ver a retomada desse projeto.
O Caderno Especial foi constituído por 5 colaborações bem diversas. O primeiro texto, A explosão de um canto interior, escrito por Pedro Carcereri, traz uma reflexão crítica sobre a série fotográfica eu sou porque nós somos, do artista mineiro João Vitor Medeiros. As fotografias são registros do Bloco Ilê Aiyê, do Carnaval de Salvador, na Bahia. Considerado o bloco afro mais antigo no Brasil, fundado em 1974, os seus idealizadores buscam expandir a cultura africana em nosso país. As fotografias trazem as imagens do centenário de Nelson Mandela, em 2018.
Em seguida, contamos com a entrevista de Cláudio Fortuna com Fernando Mourão. A conversa aconteceu poucos meses antes do falecimento deste que é considerado um pioneiro do estudo sobre a África no Brasil. Professor da Universidade de São Paulo desde da década de 1960, colaborou na criação do Centro de Estudos Africanos (CEA). O entrevistador, pro sua vez, é um antropólogo, escritor e investigador da Universidade Católica de Angola.
O terceiro conteúdo, Coletivo Descolônia: arte, afetividade e ativismo preto, trata-se de um relato de experiência de Matheus Assunção. Em resumo, o Coletivo Descolônia, criado em 2017, consiste em um desdobramento de um grupo de estudos sobre arte afrocentrada – MIRADA: Visualidades, Interculturalidade e Formação Docente. A iniciativa partiu dos alunos do Instituto de Artes e Design da Universidade Federal de Juiz de Fora, sendo os seus objetivos: produzir, estudar e difundir uma arte afrocentrada.
Rennan Carmo participa do Caderno Especial com o ensaio Fongbè, Voduns, Nagotização e o Candomblé. Em seu texto aborda as reverberações criadas no candomblé brasileiro a partir dos processos de transculturação. O autor busca uma aproximação entre a língua portuguesa e o Fongbè a fim de construir um glossário de termos, os quais são utilizados dentro de uma casa de candomblé. No verbete Fongbè, por exemplo, ele nos informa que essa também é conhecida como Fon, uma língua falada pelos povos Jeje, atualmente no Benim devido os processos coloniais.
Por fim, temos o artigo Corpo negro colonizado e algumas implicações do imperialismo europeu sobre partes da África, de Eumara Maciel dos Santos, na época doutoranda em Estudos Étnicos e Africanos pela Universidade Federal da Bahia, pesquisa a respeito de questões referente a história e identidade da África. A autora versa sobre a construção da representação da África e os africanos durante o século XIX. O texto consiste em uma análise da pauta eurocêntrica e racista do colonialismo europeu, tal como, trata do modo como o corpo negro foi objetificado, visto como o Outro.
Capa: JV Medeiros. Ilê Aiyê – 45 anos do Bloco Afro mais importante do Brasil. Série eu sou porque nós somos, 2018.