- Recriar a partir da colonialidade e fugir do caminho que nos empurra para a morte¹
A fuga da morte, conforme Jota Mombaça e Musa Michelle Mattiuzzi sugerem, torna-se possível no momento em que outros caminhos são testados. O ato de recriar, portanto, ocorre na medida em que há um movimento de recusa à retórica distópica neoliberal, a qual opera no constante aniquilamento da capacidade de sonhar

A imaginação, nesse sentido, surge como potência capaz de promover uma ruptura do projeto de colonialidade e de sua temporalidade linear, engendrada na modernidade e baseada em uma pretensa relação de causa e efeito. O deslocamento a partir da sobreposição de camadas de tempos outros, futuros e passados, possibilita a elaboração de mundos das ontologias impossíveis.
A oportunidade que se coloca é a escuta da memória de futuros nos quais a utopia se realize e sujeitos afrodiaspóricos permaneçam vivos. O (afro)futurismo é urgente porque a realidade que enfrentamos acordadas é inconcebível. Dessa maneira, a ficção oferece um arcabouço epistemológico que permite a formulação de lugares outros.
- A terra vibra no Plenum e também agoniza todas as correntes que a grande consciência universal racial moderna arma sobre ela. Mas o Plenum é a continuação da terra por outros meios²
No mundo como plenum, retomado pela Dra Denise Ferreira da Silva a partir da conceituação de Leibniz, “o que existe, torna-se, apenas e sempre, uma versão de possibilidades permanentemente expostas no horizonte do Vir-a-Ser”. Trata-se de uma formulação de pensamento composicional que se situa na dobra dos campos do teórico e do ficcional, promovendo a quebra da razão universal e da percepção de mundo como totalidade ordenada.
Referências Bibliográficas
¹MATIUZZI, Musa Michelle; MOMBAÇA, Jota. Carta à leitora preta do fim dos tempos, p.13. In: SILVA, Denise Ferreira da. A Dívida Impagável. São Paulo: Oficina de Imaginação Política e Living Commons, 2019.
²MATIUZZI, Musa Michelle; MOMBAÇA, Jota. Carta à leitora preta do fim dos tempos, p.13. In: SILVA, Denise Ferreira da. A Dívida Impagável. São Paulo: Oficina de Imaginação Política e Living Commons, 2019.
SILVA, Denise Ferreira da. Para uma Poética Negra Feminista: A questão da Negridade para o (fim do) mundo, p.109. In: SILVA, Denise Ferreira da. A Dívida Impagável. São Paulo: Oficina de Imaginação Política e Living Commons, 2019.
Andressa Rocha
É bacharel em História da Arte pela Escola de Belas Artes da UFRJ, crítica de arte e arte-educadora. Desenvolve pesquisa acerca da presença do legado antropofágico no fim do projeto moderno e a continuidade e inflexão diferencial na obra de artistas afrobrasileiros.